quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Provérbios - Lição XVI; Quem não ouve cuidado...




Provérbios 7:1-27; KJA

1 Filho meu, obedece aos meus conselhos e no íntimo do teu ser guarda os meus mandamentos! 2 Segue as minhas orientações e descobrirás a verdadeira vida; zela pelos meus ensinos como cuidas da pupila dos teus olhos. 3 Amarra os meus mandamentos aos teus dedos; escreve-os na tábua do teu coração! 4 Dize à Sabedoria: “Tu és minha irmã!”, e ao Entendimento considera teu parente próximo; 5 eles saberão te manter longe da mulher imoral e da pessoa leviana e bajuladora.
6 Da janela da minha casa, por minhas grades, olhando eu, 7 vi entre os incautos, no meio de um grupo de jovens, um rapaz deveras sem juízo! 8 Ele ia e vinha pela rua próxima à esquina de certa mulher imoral, depois seguiu em direção à casa dela. 9 Estava chegando o crepúsculo, o final do dia, caíam as sombras do entardecer, rodeavam as trevas da noite.
10 Eis que a mulher lhe sai ao encontro, com vestes de prostituta e cheia de astúcia na alma. 11 Ela é sedutora e espalhafatosa, seus pés não suportam ficar em casa; 12 um momento na rua, outro nas praças, em cada esquina se detém à espreita de sua vítima. 13 Precipitou-se sobre o rapaz, beijou-o sem pudor e lhe declarou: 14 “Tenho em casa a carne dos sacrifícios de paz que hoje preparei para cumprir os meus votos. 15 Por esse motivo, saí ao teu encontro, a buscar-te, e te encontrei. 16 Já estendi sobre o meu leito cobertas coloridas de linho fino do Egito; 17 também já perfumei minha cama e o ambiente, com mirra, aloés e canela. 18 Vem, embriaguemo-nos com as delícias da sensualidade até o amanhecer; gozemos os prazeres do amor! 19 Pois o meu marido não está em casa; partiu para uma longa viagem. 20 Levou consigo uma bolsa cheia de prata e não retornará antes da lua cheia!” 21 Assim, com a sedução ardilosa das suas muitas palavras e gestos, persuadiu-o, com a lisonja e volúpia dos seus lábios, o arrastou. 22 E ele, sem refletir, no mesmo momento a seguiu como o boi levado ao matadouro ou como o cervo que corre em direção à emboscada, 23 até que uma flecha lhe atravesse o coração; como a ave que se apressa em saltar para dentro do alçapão, sem imaginar que essa atitude lhe custará a vida!
24 Agora, portanto, filho, dá-me toda a tua atenção e inclina os teus ouvidos às minhas palavras experientes: 25 Não permitas que teu coração se desvie para o caminho da mulher imoral, nem vagues desorientado pelas trilhas dessa pessoa. 26 Inúmeras foram as suas vítimas; e muitos são os que por ela foram mortos! 27 A casa dela é uma trilha que conduz precipício abaixo, rumo ao inferno, à morada eterna dos mortos."

Por Jânsen Leiros Jr.

A preocupação do sábio com o poder de sedução do pecado é tão grande, que ele dedica um trecho ainda mais longo sobre o tema. No caso, todo o capítulo sete de Provérbios vai tratar desse assunto que, definitivamente, ocupa muito o sábio, que se esforça em encontrar uma argumentação contundente e eficaz, para o convencimento de seu discípulo quanto a importância e pertinência da sabedoria. Esse trecho do livro é ainda mais abrangente que os anteriores.

Como faz em outros capítulos, ele começa sua argumentação realçando o papel da sabedoria no livramento do pecado. Ele, o pecado, não se revela como tal diante de nossos olhos, mas nos envolve, engana e seduz. Obedecer no íntimo do ser, é internalizar a orientação da sabedoria aos níveis dos reflexos que protegem os olhos de perigos imprevisíveis. Proteger a menina dos olhos, é um dos atos mais instintivos e naturais, que não precisa sequer de comando; uma reação espontânea de preservação.

Os Dez Mandamentos - 1956
Amarrando os mandamentos aos dedos, tudo em que se toca e tudo o que se faz pode ser avaliado e realizado segundo os preceitos do sábio. As tábuas do coração é onde os mandamentos devem estar escritos. Assim serão capazes de impulsionar os sentimentos e as sensações para tudo que é louvável. Porque no fundo, fazemos o que sentimos e as sensações são sempre muito mais impulsionadoras das atitudes do que a razão.

Tratando a sabedoria como uma irmã ou um parente, estabelecemos intimidade com ela, como nos fazemos íntimos de alguém com quem vivemos sob o mesmo teto. Além disso, parentes se protegem mutuamente. Se o papel de um é proteger o outro, o discípulo deve guardar a sabedoria, assim como será capaz de guardá-lo do caminho de morte, do engano, e da mulher adúltera; a personificação recorrente do pecado em seu poder mais declarado de sedução e engodo. Assim como o pecado, a mulher adúltera está sempre à caça de quem possa devorar (1 Pedro 5:8).

O sábio não está afirmando que apenas entre os jovens há falta de prudência e juízo, mas entre eles é mais normal existir quem, tentando se auto afirmar, se lance a uma aventura imponderável e fadada à morte. Ele não só será inevitavelmente seduzido, como se dá à essa sedução. Caminha inquieto de um lado para o outro. Aguarda a adúltera. Ele vai ao seu encontro. Procura por ela e por seus encantos. Ele não é em absoluto um inocente. Ele escolhe o caminho de sua casa e se aproxima de sua porta. Ele a quer. Ele a deseja. Não há nada que o possa parar, pois já se desviou propositalmente de seu caminho para estar ali, tão perto da mulher alheia. E o faz ao crepúsculo, escondendo-se como se escondem todos os que têm consciência de seus erros e de seus atos suspeitos.

É importante notar que a narrativa do sábio não coloca a adúltera atrás do jovem, embora ela seja inquieta e passeie pelas ruas e praças exibindo-se espalhafatosa e sensual. Antes é ele quem a procura por conta do desejo que despertou. Uma vez declarada as pretensões do jovem, então ela sai ao seu encontro com todas as suas armas de encantamento e envolvimento; vestida como prostituta e cheia de astúcia. No fundo ninguém é seduzido pelo que não lhe é relevante, interessante ou agradável. Eu, por exemplo, jamais cometeria o pecado da gula com uma panela cheia de abóbora cozida; eu não gosto de abóbora. Mas sou plenamente capaz de passar mal, se as latas de doce de leite não forem oportunamente escondidas de mim.

A sedução da adúltera é voraz. Não deixa espaço para cuidados, medos ou mesmo arrependimentos prévios. Ela o beija com ardor e sem pudor, deixando claro o quanto o deseja. Para o jovem ainda inexperiente isso funciona como algemas para a alma. Mas ela vai ainda mais longe e dá o golpe final. Ela lhe declara que suas obrigações religiosas, assim como seu ritual de purificação após as regras acabaram de ser cumpridos, o que a libera para o sexo. E notem, não obstante estar prestes a cometer o pecado de adultério, essa astuta demonstra uma religiosidade que serve de fumaça para os olhos do jovem. Sendo ela mais velha, sendo ela uma pessoa que cumpre fielmente suas obrigações religiosas, naturalmente sabe o que está fazendo e então não há nada de tão mal no que estamos prestes a cometer, devem pensar vários jovens diante de circunstâncias semelhantes. Sim, porque o processo de sedução do pecado é muito semelhante, seja ele qual for.

O cenário também cumpre um papel importante na sedução do erro. Perfumes e tecidos completam a possibilidade de experiências sensoriais desejáveis e atraentes. Tudo está perfeita e adequadamente providenciado para uma noite de prazer. Um lugar ideal, sem o risco de ser pego pelo marido que está em viajem, e sem o impedimento religioso de estar a mulher impura para o ato. E com muitos ardis, segue-a o jovem para o curral de pecado, como um boi ao matadouro. Ele caminha incauto para uma emboscada. Ele se deita para a morte, achando que será feliz, e que terá grande proveito em uma noite memorável.

É preciso ressaltar. O pecado opera assim. Mas como o pecado age naquilo que desejamos, naquilo que queremos e que gostamos, em nós habita o desejo por ele. Somos tentados e envolvidos por nossas próprias paixões. Ninguém, em absoluto, pode se dizer inocente diante do passo errado que deu, movido que foi por sua própria vontade e determinação. Somos totalmente livres, até para sermos feitos totalmente escravos.

Portanto o sábio quase suplica. Filho, diz o sábio com o amor e a compaixão de quem tenta livrar da morte aquele a quem ama. Não se desvie para o caminho da adúltera. Não a procure nem busque ir até sua casa. Usa da mesma liberdade que tens para ir para onde bem entender, para não ir para perto da mulher ardilosa. Foge dela. Ouça os meus mandamentos e a minha experiência. É claro que somos livres. É claro que podemos não dar ouvidos a nada e fazermos o que bem entendermos. É claro que todas as coisas nos são lícitas. Mas como afirmará Paulo séculos depois, nem todas nos convêm. 

Que a íntima relação com a Palavra de Deus e sua sabedoria, bem como o temor do Senhor, nos livre do aparentemente doce sabor do pecado, nos preservando livres em sua maravilhosa luz.

terça-feira, 2 de agosto de 2016

Provérbios - Lição XV; Com fogo não se brinca



Provérbios 6:12-19; ARC

20 Filho meu, guarda o mandamento de teu pai, e não abandones a instrução de tua mãe; 21 ata-os perpetuamente ao teu coração, e pendura-os ao teu pescoço. 22 Quando caminhares, isso te guiará; quando te deitares, te guardará; quando acordares, falará contigo. 23 Porque o mandamento é uma lâmpada, e a instrução uma luz; e as repreensões da disciplina são o caminho da vida, 24 para te guardarem da mulher má, e das lisonjas da língua da adúltera. 25 Não cobices no teu coração a sua formosura, nem te deixes prender pelos seus olhares. 26 Porque o preço da prostituta é apenas um bocado de pão, mas a adúltera anda à caça da própria vida do homem. 27 Pode alguém tomar fogo no seu seio, sem que os seus vestidos se queimem? 28 Ou andará sobre as brasas sem que se queimem os seus pés? 29 Assim será o que entrar à mulher do seu próximo; não ficará inocente quem a tocar. 30 Não é desprezado o ladrão, mesmo quando furta para saciar a fome? 31 E, se for apanhado, pagará sete vezes tanto, dando até todos os bens de sua casa. 32 O que adultera com uma mulher é falto de entendimento; destrói-se a si mesmo, quem assim procede. 33 Receberá feridas e ignomínia, e o seu opróbrio nunca se apagará; 34 porque o ciúme enfurece ao marido, que de maneira nenhuma poupará no dia da vingança. 35 Não aceitará resgate algum, nem se aplacará, ainda que multipliques os presentes.

Por Jânsen Leiros Jr.

Retorna então o sábio ao tema recorrente e ao seu formato costumeiro; a sabedoria e a prudência como sustentação de suas atitudes cotidianas. Mas há uma ressalva a fazer. Podemos notar que repetidas vezes ao longo do livro até aqui, e isso acontecerá mais adiante outras vezes, ele cita o ensino do pai, a instrução da mãe, parecendo sempre complementares entre si.

Há comentaristas que detalham a exegese a ponto de concluir que tal tipo de instrução pertence ao papel do pai, e outro tipo à mãe. Eu entendo que o sábio está na verdade demonstrando que a família tem o papel de exercer influência na formação do caráter de seus jovens, de modo a constituir-lhes patrimônio moral e ético. Sim, porque ao contrário do costume moderno de entregar os filhos às escolas para serem educados pelos professores e funcionários dessas instituições, o papel da formação pessoal, afirma o sábio, é do pai e da mãe. Mais precisamente da família, e por quem quer que cumpra seus papéis.

Ora, os mandamentos dos pais e as instruções da mãe devem andar coladas ao corpo. Devem ser de fácil acesso. Devem influenciar sentimentos e impulsos, e por isso devem ser amarradas ao coração. Deve manter orientação para o que é probo, digno e louvável. Deve orientar a direção dos olhos, além de servirem de enfeites como jóias preciosas adornando o pescoço. Ata-as, e não as deixe em qualquer lugar. Quer acordado, quer dormindo, devem sempre fazer parte do seu dia-a-dia e de toda sua vida. Assim serão lâmpadas para o caminho. Sem contar o valor da correção e da disciplina. Outra prática decadente nos lares, que produzem filhos sem qualquer limite.

Novamente a sedução da adúltera tipifica a sedução do pecado. O fato da mulher casada ser novamente utilizada como personagem da sedução, propõe que o jovem seduzido considere como ato fortuito e sem conseqüências, o cair inocente e irresistivelmente em seus encantos. Ou em suas garras, se preferir. Fosse uma virgem ele estaria comprometido para toda a vida. Casada, porém, pensa ele se deliciará com seus amores, sem comprometer seu futuro. Imprudente e inconseqüente, diria o sábio. Não há como caminhar sobre brasa sem queimar os pés. Não se coloca fogo nas roupas sem que o corpo se queime.

Melhor seria o uso de uma prostituta, pois essa teria um preço e nada mais. Mas a adultera cobra sua vida. E antes que alguém se lance a imaginar que estou estimulando os jovens a que procurem profissionais do sexo para se satisfazerem, deixe-me esclarecer. Pois o que o sábio está falando abertamente, é que, fosse o impulso dirigido a uma prostituta, que tem um preço pela tarefa que realiza, o seu custo seria um preço. Mas ao cobiçar a mulher adultera, ao flertar com ela, sua vida corre grande e iminente perigo. A sedução da adúltera é caminho para a morte.

Todo crime tem um preço e o sábio demonstra isso. Pois o ladrão apanhado restituirá o objeto roubado até sete vezes mais, e notem, por mais aceitável que tenha sido sua motivação. Afinal, ele estava com fome. Ainda assim pagará com os bens que ainda tiver em casa, e por fim até com sua própria liberdade. Sua vida, no entanto, será preservada. Mas quem procura a adúltera, quem se deixa apanhar por sua sedução, quem se permite queimar em paixões por seus encantos, é louco e está perto de morrer.

O marido cuja mulher é apanhada em adultério ganha o direito de ressarcimento pelo dano moral. E esse ressarcimento é a morte de ambos; tanto a sedutora quanto o seduzido. E note que o adúltero não é considerado um coitado inocente, ainda que jovem. Antes tivesse atendido aos mandamentos de seu pai, e ouvido as instruções de sua mãe. Pois o marido tem sede de vingança, e por maior que lhes sejam os bens dados em ressarcimento, ele não abrirá mão da morte do jovem tolo e imprudente. Requerer tal reparo é seu direito e ele o utilizará cabalmente. Triste fim terá o tolo que não ouve seus pais. 

Que o prazer de viver uma vida santa diante de Deus, nos inspire a guardar sua palavra em nossos corações, ensinando-nos a evitar a sedutora oferta do pecado, que a cada um se apresenta sempre como aquilo que nos é mais precioso e desejável. Lembre-se; o mel de hoje, pode ser o fel de amanhã.

quinta-feira, 28 de julho de 2016

Provérbios - Lição XIV; A maldade por prazer

Provérbios 6:12-19 - ARC

12 O homem vil, o homem iníquo, anda com a perversidade na boca, 13 pisca os olhos, faz sinais com os pés, e acena com os dedos; 14 perversidade há no seu coração; todo o tempo maquina o mal; anda semeando contendas. 15 Pelo que a sua destruição virá repentinamente; subitamente será quebrantado, sem que haja cura. 16 Há seis coisas que o Senhor detesta; sim, há sete que ele abomina: 17 olhos altivos, língua mentirosa, e mãos que derramam sangue inocente; 18 coração que maquina projetos iníquos, pés que se apressam a correr para o mal; 19 testemunha falsa que profere mentiras, e o que semeia contendas entre irmãos.

Por Jânsen Leiros Jr.

O sábio mantém suas advertências numa sequência que acredito interligar um apontamento a outro, como se o todo não deixasse de falar de um mesmo personagem imaginário, sobre quem se faz alusão como sendo uma terceira pessoa. Um estilo diferente de orientar, que descansa, de certa forma, o modelo de advertência direta, utilizado até o final do capítulo cinco.

O homem vil e iníquo, que em algumas traduções utiliza homem de Belial e vil, é um perverso contumaz que age ostensivamente para realizar o mal, determinado que está a aniquilar tudo e qualquer coisa que não lhe seja proveitoso ou conveniente. Um homem que tem prazer no mal que realiza. Alguém que prefere o mal ao bem. Uma predileção diabólica.

As características desse homem iníquo, são descritas por alguém que se deteve a observar suas atitudes. Alguém que acompanhou esse homem realizando suas perversões, registrando suas atitudes, seus maneirismos e sinais. Sim sinais, porque tal homem perverso, não só age com vilania, como bem se utiliza de outros tantos que a ele se juntam na realização de suas perversidades; o engodo, o engano, a trapaça, os acordos mentirosos. Como possivelmente um contrato de fiança em que terceiros servem de testemunhas dos valores e prazos de pagamento acordados, por que não?

O homem vil é aquele que se dá à maldade e à perversidade por preguiça de trabalhar e ganhar seu sustento honestamente. Sim, porque agir de forma correta, proba, requer trabalho, desgaste, suor. Fazer o que é certo requer atitude diligente e perseverante. É muito mais fácil fazer a coisa errada. O mal é sempre um atalho utilizado por alguém, no intuito de atingir aquilo que pretende, porém sem esforço ou trabalho. Claro, fosse o mal mais trabalhoso que o bem, se faria o bem, quanto mais não fosse, por preguiça.

É importante perceber que o perverso todo o tempo maquina o mal. Ele gasta tempo articulando sua trama. Tem prazer em ser enganoso, influente, manipulador. Tem em mente as expressões certas, o tom adequado de como falar, domina e controla todo o teatro de sua maldade, mexendo os dedos, torcendo a boca, riscando o chão com os pés. Utilizando-se de toda sorte de estratégias combinadas previamente com seus comparsas, para enganar o inocente e conquistar seu objetivo.

Não é sem motivo que ele é chamado de perverso e iníquo, ou mesmo de homem de Belial, nome que mais tarde será utilizado para designar o próprio diabo. Esse vilão social repugnante traz em seu traço de personalidade e comportamento, as atitudes que Deus mais abomina como recorrentes em alguém. E aqui é importante ressaltar que seis... e sete, como também três... e quatro, que veremos mais à frente, não são números exatos. A ideia do estilo, não podemos esquecer que estamos lendo uma literatura poética, é apresentar uma lista que apenas relacionará aquilo que afirmará em seu conteúdo. Ou seja, aqui a lista tem sete coisas. Em outro lugar quatro. Poderia mais tarde ter uma ou vinte. O conteúdo do ensino define a quantidade de itens da relação.

De qualquer forma, as sete atitudes abomináveis caracterizam sem qualquer falha um homem iníquo, de cuja perversidade se utilizará de uma ou outra característica relacionada, senão de todas, dependendo da circunstância e do objetivo. Confesso que deveria resistir ao desejo de comentá-las separadamente, dado o objetivo principal desse pequeno comentário livre. Mas peço perdão. Irresistivelmente, iremos a eles:

Olhos altivos - a expressão flagrante e perceptível da soberba; primeira atitude de descolamento social e de afastamento espiritual de Deus. O Senhor resiste ao soberbo. A soberba faz de qualquer pessoa uma ilha, isolando-a da realidade. Nada é mais importante para ela, do que ela mesma. Portanto se satisfará sempre, custe o que custar.

Língua mentirosa - antes de tudo uma língua descompromissada com a verdade. A expressão língua mentirosa não se refere a uma mentira isolada, mas a um hábito corriqueiro e preferivelmente utilizado como estilo de vida e interação com o outro. A soberba requer a mentira e necessita dela, pois mascara a realidade que a soberba não quer ver ou precisa esconder. A língua mentirosa está pronta para dizer até alguma verdade, caso essa lhe seja conveniente, quando aplicando algum golpe mentiroso, ou dissimulando alguma observação mais prudente de sua vítima.

Mãos que derramam sangue inocente - pois não há nem pode haver qualquer impedimento ou barreira para o objetivo do perverso. Nem a vida. Muito menos de outro. Ainda que inocente e normalmente do inocente, pois preferivelmente é a vítima de sua vilania. No pensamento do soberbo o inocente ganha outro apelido; o otário, o mané ou trouxa.

Coração que maquina projetos iníquos - e aqui há uma alusão interessante. O ato iníquo não parte da mente. Não é um plano racional. É emocional. É pretendido preferivelmente a qualquer outra possibilidade justa, e atende a um desejo, e não a uma necessidade fisiológica ou carência de sobrevivência. Ele maquina o mal para saciar um desejo irresistível pela maldade. A perversidade é seu deleite.

Pés que se apressam a correr para o mal - porque não pode perder tempo. O prazer que a perversão lhe causa é um deleite a que se apressa em proporcionar a si mesmo. Todo seu ardil e vilania atende a esse prazer, e por isso não há tempo a perder. Há sempre alguém louco para ser enganado, roubado ou morto, pensa o perverso em sua perversidade.

Testemunha falsa que profere mentiras - se a mentira já um estado natural da língua do iníquo, testemunhar falsamente não lhe é nenhuma dificuldade. Muito pelo contrário. Testemunhar falsamente para obter algum lucro, é mais do que natural para esse homem. Aliás, o falso testemunho é parte do seu teatro de ações malévolas. Eles mentem sobre acordos, valores, prazos, pagamentos. As testemunhas destes atos mentem sobre os fatos, beneficiando o iníquo e prejudicando os inocentes. Será que não conhecemos situações semelhantes?

O que semeia contendas entre irmãos - e por fim o diabo. Sim, porque há algo mais diabólico do que semear a discórdia? O perverso prefere o caos. É o seu ambiente ideal, onde não há entendimento nem boa vontade entre ninguém. Normalmente, enquanto o iníquo semeia discórdia entre os outros, ele mesmo se mostra como o amigo próximo e oportuno, tirando proveito do momento e afastando as pessoas entre si. E quanto mais afastadas e armadas uma contra as outras, mais longe estarão de uma possível resistência conjunta contra o perverso. A estratégia do mal é dissolver o bem. Impedir a unidade. Por isso é tão bom e agradável os irmãos vivendo em união. É sempre mais difícil romper o cordão de três dobras.

Não é sem motivo que a destruição de tal indivíduo será repentina e sem recuperação. Repentina porque a soberba não lhe permitirá sequer notar qualquer aproximação de risco ou do fim de sua vilania. Ele está sempre confortável em seu castelo de horrores, sentindo-se seguro protegido pela montanha de maldades, muro de vergonha que construiu. Não haverá cura, porque o arrependimento não lhe é possível, não lhe é próprio. Na verdade, entende seu revés apenas como momentâneo, e resultante de algum equívoco em seu planejamento do mal. Articulará melhor da próxima vez, pensa, enquanto avalia suas perdas. O mal será sempre seu objetivo.

Por fim, é importantíssimo ressaltar um detalhe. Ainda que o alerta seja quanto a um personagem imaginário, no qual o sábio moldou todas as características do perverso, no fundo seu discurso não deixa de ser uma advertência ao seu discípulo, a quem logo adiante voltará a falar diretamente. Portanto o alerta cabe a nós, a todos nós. O conjunto das características do homem vil esteve reunido em um só personagem, mas bem pode se manifestar isoladamente em nossos comportamentos cotidianos; atitudes essas que precisarão sempre ser evitadas e banidas do nosso dia a dia.

Que estejamos sempre alertas para que a iniquidade jamais se manifeste em nossas atitudes, e em nosso relacionamento com o próximo.

sábado, 9 de abril de 2016

Provérbios - Lição XIII; Formiga faz bem aos olhos


Provérbios 6:6-11 - ARC

6 Vai ter com a formiga, ó preguiçoso, considera os seus caminhos, e sê sábio; 7 a qual, não tendo chefe, nem superintendente, nem governador, 8 no verão faz a provisão do seu mantimento, e ajunta o seu alimento no tempo da ceifa. 9 Ó preguiçoso, até quando ficarás deitado? Quando te levantarás do teu sono? 10 Um pouco para dormir, um pouco para toscanejar, um pouco para cruzar as mãos em repouso; 11 assim te sobrevirá a tua pobreza como um ladrão, e a tua necessidade como um homem armado.

Por Jânsen Leiros Jr.

Seguindo pelo capítulo 6, temos a primeira alusão sobre um tema que se repetirá mais adiante, apenas com pontuações diferentes, as quais isolaremos e comentaremos separadamente, mantendo a estrutura didática pretendida pelo autor do livro.

Em certa medida, pelo menos nessa primeira aparição do assunto, a questão do trabalho bem pode estar relacionado com o tema anterior sobre ser fiador, você deve lembrar (ver Provérbios-Lição XII, nesta mesma coluna). Isso porque pessoas com uma condição financeira mais sólida, que serviam de fiadores de empréstimos, oportunamente viviam da renda de tais transações, o que além de amarrá-los a um risco de grande ruína, lhes impelia a inatividade laboral, já que se garantiam de tal renda para viver, sem nada produzirem.

Como possivelmente o interlocutor do sábio no primeiro tema poderia lhe argumentar que ser o fiador de tais transações era o seu meio de vida, o sábio lhe chama desveladamente de preguiçoso. O sustento se garante com trabalho; do suor do teu rosto comerás. O preguiçoso fiador, acredita que seu dinheiro trabalha para ele, e portanto ele pode dormir e sonhar, mergulhado em uma vida improdutiva e exploradora da necessidade do seu próximo.

Uma outra argumentação poderia o preguiçoso fazer ao sábio. Sua boa condição financeira o colocava em uma situação de proeminência social, que lhe conferia não ter patrão ou chefe; ninguém a mandar-lhe ou impor-lhe trabalho. E então o sábio, faz exatamente essa pontuação; as formigas sequer têm qualquer comando ou imposição ao trabalho que empreendem. Sabem, por condição de formigas, que precisam trabalhar guardando mantimentos durante o tempo oportuno, para que no período em que esse trabalho não pode ser realizado, tenha de onde retirar sua subsistência. Não podemos esquecer que Salomão reina durante um período de grande prosperidade nacional. Porém a história de seu povo passa por períodos de fome e grande instabilidade, que poderiam retornar no ciclo natural da história, causando ao preguiçoso profunda e repentina ruína.

Por fim há outra pontuação implícita na exortação do sábio. Fazer alguma reserva durante o período de colheita, para eventuais circunstâncias que impeçam a produção dos meios de subsistência. Porque há tempos de semear e tempo de colher o que se semeia. E durante a semeadura, obviamente, não há o que colher. Então se vive do que se juntou a mais para esse período. Mas notem, não fala o sábio para guardar uma reserva que se acumule para toda a vida, mas apenas para o período natural do ciclo semear-colher. Do contrário, e isso é minha observação, a formiga corre grande risco de se tornar um preguiçoso fiador, explorador da necessidade alheia, vivendo para dormir e pestanejar.

Por fim, é importante ressaltar que a preguiça aqui condenada, não se refere a um cansaço físico resultante de esforço, o que naturalmente nos acomete ao fim de uma jornada extenuante de trabalho. Do contrário o sábio estaria desconstruindo o conceito do sagrado descanso do sábado. Na verdade, a preguiça é mais um estado de inapetência pela vida, de indolência, de falta de empenho por algo que se necessita realizar para o próprio proveito; necessário e premente.
  
Ora, quantas vezes a preguiça nos impede de dedicadamente realizar o que deve ser realizado para o nosso próprio bem. Vai dar trabalho, dizemos a nós mesmos, antevendo dificuldades e contingências que precisaremos solucionar. Lamentamos de antemão o desgaste físico e emocional que eventualmente teremos , e desistimos do pretendido por preguiça; mais precisamente, falta de diligência.

Empenha-te! Esforça-te! Vai ter com a formiga, preguiçoso[1].

domingo, 20 de março de 2016

Provérbios - Lição XII; Garanto que não posso garantir



Provérbios 6:1-5 - ARC

1 Filho meu, se ficaste por fiador do teu próximo, se te empenhaste por um estranho, 2 estás enredado pelos teus lábios; estás preso pelas palavras da tua boca. 3 Faze pois isto agora, filho meu, e livra-te, pois já caíste nas mãos do teu próximo; vai, humilha-te, e importuna o teu próximo; 4 não dês sono aos teus olhos, nem adormecimento às tuas pálpebras; 5 livra-te como a gazela da mão do caçador, e como a ave da mão do passarinheiro.

Por Jânsen Leiros Jr.

O capítulo 6 de Provérbios quebra a sequência de ensinamentos do sábio, incluindo advertências isoladas, sobre as quais tentaremos jogar alguma luz separadamente, dada a complexidade apesar de tamanha obviedade.

Ao reprovar o ato de assumir fiança a terceiros, diferentemente do que faz em outros ensinamentos, o sábio aqui não declara a motivação intrínseca de sua advertência. A "prisão" ao compromisso é consequência do acordo de garantia, mas não chega a explicar o sentido moral de tal orientação.

Comparando com outras ocorrências de fiança no texto bíblico, talvez nos seja possível encontrar algumas pistas mais adequadas, como, por exemplo, em Gênesis 43:9, quando Judá se coloca pessoalmente como garantidor do retorno do irmão caçula, quando da segunda viagem ao Egito para comprar alimentos. Como conhecemos o fim da história, sua atitude talvez nos passe despercebida em meio a narrativa. Porém Judá, por sua atitude, viu-se em apuros quando José, encenando aborrecimento pelo suposto roubo de um de seus pertences, ameaçou manter Benjamim preso como escravo, libertando todos os demais. Judá ofereceu sua liberdade em troca do retorno do irmão, pois talvez não conseguisse viver com a culpa da garantia não cumprida ao próprio pai. De modo que ter-se dado por fiador do retorno de seu irmão, custaria a Judá a própria liberdade, sua vida em família, e provavelmente todos os seus planos e perspectivas.

Partindo do ocorrido com Judá, talvez o sábio queira dizer que não é possível a nenhum ser humano dar garantias sobre a vida, o comportamento e as atitudes de qualquer outro, já que nem mesmo das suas pode ser garantidor pleno; o bem que quero fazer não faço, mas o mal que eu não quero, esse é o que faço, dirá Paulo mais tarde, reconhecendo a dificuldade de alinhar a própria conduta com seus princípios morais.

Ora, se ao homem é difícil garantir a própria conduta por vício de atitude, inclinado que é ao pecado, como garantir que terceiros agirão corretamente, pagando suas dívidas e honrando compromissos firmados. Garantir atitudes de outros é, portanto, uma imprudência decorrente da arrogância de um pretenso domínio que efetivamente não existe; o das contingências e do imponderável. Pois ainda que o terceiro afiançado seja probo em suas atitudes, está ele ainda vulnerável às circunstâncias e fatos, que alheios à sua vontade, poderão impedir-lhe honrar com a dívida, transferindo assim o compromisso e o pagamento ao seu fiador garantidor.

Comparativamente ainda, outras passagens do texto bíblico apontam para fianças, essas sim aceitas e inquestionáveis; Jó clama a Deus para que seja seu fiador diante de Si mesmo, pois ninguém haveria de lhe estender a mão[1], e Jesus, que é o fiador de Deus junto aos homens (e não o contrário), garantindo-lhes sacerdote eterno[2]. Ainda o salmista clama a Deus que lhe seja fiador diante dos homens para o seu bem[3].

Entendemos assim, que apenas Deus pode afiançar, garantir, ou assumir responsabilidades em lugar de alguém, pois o domínio de todas as coisas lhe pertence. Ser fiador do que não podemos garantir, é partir de uma condição de iminente descumprimento com o compromisso assumido. Não temos poder nem domínio necessário para garantir nada; para afiançar que determinada coisa se dará dessa ou daquela maneira.

Diante de tal imprudência, portanto, o sábio sugere que haja grande empenho em livrar-se do compromisso assumido indevidamente. Sem orgulho ou adiamento, livre-se dele como quem luta pela própria vida, pois é ela que corre perigo, caso reste ao fiador, a responsabilidade de arcar com a dívida do seu próximo.





[1]  Jó 17:2-4
[2]  Hebreus 7:22
[3]  Salmos 119:122

segunda-feira, 7 de março de 2016

Provérbios - Lição XI; Sedutora sedução

bodypainting-renard


Provérbios 5:1-23

1 Filho meu, presta atenção às minhas palavras de sabedoria e inclina os teus ouvidos para compreender o meu discernimento. 2 Assim manterás o bom senso, e os teus lábios guardarão o conhecimento; 3 porquanto os lábios da mulher imoral são sedutores e destilam mel; sua voz é mais suave que o azeite, 4 contudo, no final é amarga como fel, afiada como uma espada de dois gumes. 5 Seus pés correm para a morte; seus passos conduzem-na diretamente ao inferno. 6 Ela não reflete sobre o perigo de andar por trilhas tortuosas, e não consegue enxergar o caminho da vida. 7 Agora, portanto, meu filho, dá-me ouvidos e não te desvies das palavras da minha boca. 8 Afasta o teu caminho da mulher adúltera, e não te aproximes da porta da sua casa; 9 para que não entregues aos outros a tua honra, tampouco, tua própria vida a algum homem cruel e violento; 10 para que dos teus bens não se fartem os estranhos, e outros se enriqueçam à custa do teu trabalho; 11 e venhas a te queixar e gemer no final da vida, quando teu corpo perder o esplendor e o vigor abandonar tua carne.12 Então, murmurarás: “Como me rebelei à disciplina! Como meu coração desprezou a repreensão! 13 Não quis ouvir os meus mestres, nem dei atenção aos que me ensinavam. 14 Cheguei muito próximo da ruína completa, à vista de toda a comunidade!”
15 Portanto, bebe a água da tua própria fonte, sacia tua sede com as águas que brotam do teu próprio poço. 16 Por que deixar que os teus ribeiros transbordem pelas ruas e as tuas fontes pelas praças? 17 Que tais mananciais sejam exclusivamente teus, jamais divididos com quem quer que seja! 18 Bendita seja a tua fonte! Alegra-te sobremaneira com a tua esposa. Sê feliz com a moça com quem casaste! 19 Gazela ardorosa, corsa graciosa; que os seios da tua esposa sempre te fartem de prazer, e seu amor te extasie de carinhos todos os dias de tua vida. 20 Por qual razão, filho meu, andarias descontrolado atrás de uma mulher imoral? Por que acariciar outros seios que não os de tua esposa? 21 Os caminhos do homem estão diante dos olhos do SENHOR, e Ele examina atentamente todos os seus passos! 22 Quanto ao perverso, são suas próprias iniquidades que o amarram e o fazem prisioneiro das cordas do seu pecado. 23 Com toda a certeza, ele morrerá por falta de controle; andará inseguro e cambaleante por conta de sua insensatez.

Por Jânsen Leiros Jr.

Salomão traça um dos mais contundentes e irretocáveis paralelos entre pecado e infidelidade conjugal, apresentando todo o processo de tentação e queda, comparando o pecador ao tolo que se deixa levar pela sedução de uma mulher adúltera.

Nos dois primeiros versículos ele incentiva o filho a inclinar seus ouvidos a compreender os seus entendimentos. A gastar tempo e empenho nisso. Ocupado em ouvir a voz da sabedoria e a discernir suas instruções, não haverá brecha para ouvir a sedutora voz da adúltera. E aqui há um ponto de escolha, de opção. Ou pelo que é correto, ou pelo que é errado. Porque se os lábios são sedutores como o mel, e a voz suave como o azeite, ao optar por dar-lhe ouvidos, o filho decide pelo prazer imediato e por saciar-se inconvenientemente. Não há inocência.

E aqui é importante ressaltar o caráter da sedução e a decisão por deixar-se enganar por ela. A sedução se faz naquilo que lhe é interessante. Mas não há qualquer engodo insuspeito nela. A sedução é uma espécie de convencimento de fazer algo que sabidamente não é correto, porém os riscos compensam o benefício a locupletar. O caráter provisório do que se deseja, em detrimento da perenidade do que se pode perder. Não há inocência e não há temor. Deixar-se vencer pela adúltera é um risco calculado e uma opção pra lá de consciente, e por isso plenamente imputável.

Pode parecer que uma pequena escapulida não tenha maiores consequências, mas o sábio adverte para a grande ruína que se abate sobre quem se permite a tanto. Primeiro porque o que antes era doce como mel se torna amargo, bem como o que era cicatrizante e revigorante como o azeite, se torna cortante e penetrante como a espada. O que parecia um bem se transforma em um grande mal, e seu fim é remorso e amargura. O efeito devastador do pecado. A sensação de desgosto pelo pecado cometido é tão grande que Davi dizia apodrecerem os seus ossos[1]!

Outra interessante advertência do sábio está em sugerir que o filho se afaste da adúltera e sequer se aproxime de sua porta. O motivo está nos versículos 5 e 6. Se não for você a tomar conta de si mesmo, não espere que ela o faça, pois sequer pensa ou medita sobre seu pecado e sobre o seu caminho de morte. Dá-me ouvidos e não te desvies das minha palavras. Para chegar às portas da adúltera, antes é preciso desviar-se do caminho orientado pelo pai. Não é sem querer que se vai até ela. Então não se coloque a prova. Não subestime seus impulsos. Para que arriscar-se à ruína?

Dos versículos 9 ao 13, fica clara a armadilha armada pela sedução da adúltera. Não havia qualquer intenção de lhe fazer bem. Pelo contrário a vida do tolo será completamente sugada. Sua saúde esgotada. O vigor lhe fugirá do corpo. O peso do lamento lhe envergará e ele então reconhecerá que sua desventura não foi causada por outro, senão por sua própria teimosia, desobediência e tolice. Pois não deu ouvidos ao ensino, nem sequer atentou à repreensão.

O versículo 14, no entanto, traz um alento. Há uma saída! Quando ele diz estive próximo da ruína completa, implicitamente está demonstrado que o seduzido escapou, não depois do pecado concebido, mas antes de o ter cometido, uma vez que anteviu tudo o que lhe aconteceria, por lembrar-se de tudo o que o pai lhe ensinou. Então ele diz a si mesmo: Ufa! Foi por pouco!

Há uma grande recompensa àquele que não se deixa seduzir pelo pecado, pela voz sedutora da adúltera. A vida de santidade não é uma vida abnegada de prazeres, mas antes tem prazer naquilo que recompensa a vida e não no que lhe arma perigosas armadilhas. Bebe a água da tua própria fonte, sacia tua sede em teu próprio poço. Bebe até estar satisfeito. Valoriza teus mananciais. Alegra-te, sê feliz e se farte de prazer, diz o sábio, mas com a tua mulher. Seja grato pelo que Deus te dá e pela maneira com que vives, pois isso é a porção da vida que o Senhor te deu. A sedução do pecado normalmente nos assalta quando partimos para desejar aquilo que não nos pertence, ou não nos convém.

Por fim, o sábio afirma que o perverso se amarra em suas próprias iniquidades e se aprisiona em seu pecado. Ele morrerá por seu descontrole, ou viverá cambaleante pela insensatez em desprezar o ensino. E não adianta se declarar inocente ou enganado por desconhecer a sabedoria. Deus conhece e examina atentamente todos os passos do homem. Nada lhe é escondido ainda que fingido.




[1]  Salmos 32:3